quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Se a tua alegria



Se a tua alegria
é uma merda concreta
que não encerra poesia alguma,
não vale um sorriso.

Se a tua alegria,
essa merda concreta,
é sem voz e verdade e mundo externo,
então talvez uma antropofagia
disfarçada de um grito subalterno
passe pela tua porta,
invada por entre as tuas pernas,
te faça gozar
e, por fim,
te faça alegre e humana.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Pedido



Teus olhos
estreitos
caminham
ou pairam
por mim,
talvez?

Percorrem
toda a dimensão do infinito,
e tu danças,
dancemos,
então,
como sempre,
amor.

Não é só de infelicidade
que se faz a vida,
mostremos,
então,
que estamos certos,
um beijo
que cala
as súplicas,
amor.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Favela, meu coração



Abaixo da linha dos olhos
desta parte do burgo,
à parte, deita-se a cidade
colorida de raios solares.

Deitada aos pés deste morro,
como uma criança a dormir,
inofensiva, assim se apresenta.
No entanto, na abstrata luta de classes,
ostenta seu luxo e sua raiva
contra esse gigante chamado Favela,
elevado em sua letargia,
vestindo a máscara da inferioridade
que lhe pregaram no rosto.

Sabe-se que lá embaixo
fazem silêncio e, quando falam,
não é mais do que verborragia,
distração vazia, para que esse gigante
não acorde – eis o pavor!

Pois sabem
que a favela é um dragão
gigante e temível, que dorme ainda,
que pena,
que pena!

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Zumbi



Pudesse eu ter escolhido
No mais velho quilombo
Teria nascido.

E se um dia Zumbi me olhasse,
Ou se suas armas eu empunhasse,
Mais forte eu teria sido.

Eu nasci ainda na senzala,
Onde a língua que se fala
Ai, é só gemido!

Mas cresci na favela,
E meu samba, meu candomblé
Foram duramente perseguidos.

Zumbi, a cada manhã que acordo,
Ao meu lado, há uma dúzia de feridos.
Amanhã, se não for eu o atingido,
Zumbi, ainda terei  forças para lutar.