quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Cotas para a meia entrada para os jovens

Sou jovem. Embora muitos pensem que sou mais velho, tenho apenas vinte e um anos. E desde muito tempo escuto dizer que o Brasil é o país do futuro. Se é o país do futuro, penso: os jovens devem desempenhar um papel importantíssimo nessa transição.
Antes de qualquer coisa, devo dizer que discordo. Mudaria essa afirmação e diria: o Brasil que queremos é o país do futuro. Um futuro que, obviamente, dialoga com o presente e com o passado.
Tenho orgulho em dizer que sou um jovem brasileiro. E sou comunista. Não me lembro bem do momento exato em que fiz essa escolha. Mas lembro da situação: eu estava andando com meu pai pelo centro da cidade, e vi uma família revirando lixo em busca de restos de comida. Eu tinha treze anos.
Bom, voltando ao assunto principal. Se o país depende da juventude para se desenvolver, e essa juventude não tem acesso a serviços básicos da sociedade, como educação, cultura, esporte, lazer, é evidente que esse futuro de que tanto se fala não chegará nunca.
Levantamentos feitos em 2010 apontam que, pela primeira vez, os jovens são a maior parte da população brasileira. E que políticas públicas estão sendo desenvolvidas, neste momento, para contemplar essa parcela tão importante, tão numerosa, tão alegre e tão necessitada de oportunidades?
Balela. Na verdade, ou não querem que esse futuro chegue, ou acreditam, ingenuamente, que o país do futuro pode ser forjado por jovens que nunca foram cinema, que não sabem o que é entrar num teatro, que nunca puderam ir ao estádio ver o time pelo qual torcem jogar. Questão de crença, ou de classe; questão de ingenuidade ou de defesa dos interesses próprios e de suas respectivas classes sociais.
Desde muito tempo tenho a clareza de que quem mantém o país no atraso é a burguesia; é o empresariado. Muitos dirão: “dogmatismo esquerdista.” Provo que não. Empresários brasileiros sempre empreenderam um grande esforço para diminuir e limitar a entrada de jovens e idosos em eventos culturais, por causa do benefício da meia entrada. O principal argumento desses empresários é o de que é muito fácil falsificar carteirinhas estudantis. Pois bem: a UNE, entidade que representa todos os estudantes do país, passou a negociar diretamente com os órgãos competentes, e formulou uma tática que destrói o argumento de quem se opõe à meia entrada: a centralização das carteirinhas, que seriam emitidas pela UNE. É de conhecimento de todos que a carteira da UNE é nacionalmente padronizada e dispõe de meios que impossibilitam a falsificação. Sim: o Movimento estudantil minou a resistência dos empresários.
Acontece que a batalha é longa. Têm espinhos no caminho. Está sendo debatido, em Brasília, o Estatuto da Juventude, que é um instrumento vital para garantir direitos concretos para esse segmento da sociedade. O projeto que foi votado na Câmara dos deputados, de relatoria da deputada Manuela D’Ávila, do PCdoB-RS, trazia muitos avanços e estabelecia a meia entrada estudantil como uma lei federal. Com muita pressão do Movimento Estudantil, o projeto foi aprovado. Grande vitória!
Eis, porém, que o projeto foi para votação no Senado. O relator passou a ser o senador Randolfe Rodrigues, do PSOL-AP. De emenda em emenda, foi estabelecida a cota de 50% para a meia entrada. É claro que não se deve restringir o Estatuto da Juventude somente nesse ponto. O projeto tem um saldo muito positivo, e deve ser comemorado pela juventude. É um marco. No entanto, a quem interessa limitar o acesso do jovem a eventos culturais, esportivos etc.? Empresários bateram palma! E houve um retrocesso em relação ao projeto inicial, da deputada Manuela D’Ávila.
Sinceramente, acho que valorizar o lucro a qualquer custo em detrimento do acesso dos jovens à cultura é uma grande sacanagem! Eu sou jovem, e não quero chegar na bilheteria de um teatro e ser impedido de entrar, porque é isso que vai acontecer! Imaginem! Um show de uma banda famosa ter o limite de 50% dos ingressos destinados à meia entrada, sendo que os jovens são grande maioria nesses eventos. Ou a pessoa vai voltar para casa sem curtir o evento, ou terá de pagar duzentos reais para assistir a um show de uma banda como Los Hermanos, ou Chico Buarque, por exemplo.
Eu sou jovem. Sou comunista. Quero cultura para mim, para a juventude e para o Brasil.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O que se diz

Numa noite sem vento,
Que, distante, semelha a morte,
Emerge a voz que lancei
Para tocar-te o ouvido,
E assim ouves distinta.

A noite constelada brilha,
E brilha somente em teus olhos,
Que já se iluminam, qual primavera,
Ao verem, bailando, o que vai desaguar
Em teus ouvidos.

Porém, tu, calada, só ouves.
E ouves serena, ternura implacável,
Enquanto te busco como o sol
O faz à madrugada.

Se minha voz te alcança
Antes de minhas mãos,
Antes que meus lábios
Percorram cada hectare
De tua pele queimante,
Abre teu sorriso e teu corpo,
Recantos de minha voz e meus beijos,
Ah, teu sorriso e teu corpo!