segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O amor-sorriso

Amor, teu sorriso tão largo
É para acolher o sangue
Que porventura minha vida
Derrama, nas batalhas que amiúde
Empreendemos contra o sofrimento
Cotidiano.

Amor, em teu sorriso fenecem
Minhas dores, e em teu sorriso
Renasço, qual o sol que cobre
A alvorada e te ilumina,
E em teu sorriso montarei abrigo,
Bem como em teus seios,
O coração, a rosa e a esperança
Deste mundo.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Carta para as mulheres que tiveram relações sentimentais comigo - onde se revela o meu lado humanamente cruel.

Não endereço esta carta às mulheres que usufruíram do que tenho de bom, em troca de um sexo bem feito, sem maiores perspectivas. Dirijo-me àquelas que amei e que me amaram, do fundo do coração, e que projetaram algum futuro comigo.
Primeiramente, gostaria de dizer que todas vocês são muito especiais. Enquanto durou o amor, – e em alguns casos mesmo depois – vocês me proporcionaram o melhor que tinham e, enquanto isso, fui barganhando muita coisa, para não ficar em débito com os corações que me ofertaram sentimentos sinceros. O fato de todas vocês serem especiais não lhes tira o mérito, tampouco me dá a qualidade de cafajeste. Vocês são especiais porque me amaram, e, para mim, não há nobreza maior do que essa.
Vejo outro problema muito sério: algumas de vocês confundiram admiração com amor. Admiração pelo simples fato de não ser eu um cara machista, como muitos outros, subordinados pela sociedade patriarcal. O fato é: todas as vezes em que fui um fiel ouvinte, – mesmo das suas históricas eróticas – eu estava apenas respeitando uma qualidade inerente a mim. Não tive como objetivo central seduzi-las ou impressioná-las, apenas quis estender uma mão amiga, despida de intenções ocultas. O que se seguia, então, era uma série de acontecimentos que eu não previa.
Acho que eu voltaria atrás e faria tudo outra vez. Quando lembro das vezes em que o sexo era consequência de uma intimidade conquistada árdua e gradativamente, ou dos momentos em que um sorriso encobria uma nuvem de melancolia, eu vejo que tudo estava em seu devido lugar. Se alguma atitude ou palavra pareceu inconveniente, também a culpa é da ocasião, que exigiu tais atos. Eu não sei lidar com o silêncio.
Outra coisa é que eu ainda amo vocês, todas vocês. Cada uma faz parte da minha história, e negá-las seria como negar a mim mesmo. O que eu sou hoje é fruto do que fui no passado, e quando eu estava com qualquer uma de vocês, eu não fui sozinho, eu me doei e depositei o que tinha de melhor em suas vidas. Portanto, as relações mútuas de amor devem permanecer no peito, ocupando lugar de destaque, sem impedir novas oportunidades.
Sim, novas oportunidades surgirão, novos amores brotarão no meu peito. Assim como vocês, que hoje amam outras pessoas, fazem planos com outras pessoas. O que eu sei é que nenhuma que realmente me amou poderá me esquecer um dia, mesmo que divirja de tudo que eu disse acima. E a razão pela qual isso acontece é justamente a minha forma de amar desmedidamente, por vezes me violentando para cumprir um simples anseio de vocês.
Eu tenho muitos defeitos, e o maior deles é ter tanto medo da solidão. Isso me torna vulnerável e às vezes falacioso, ainda que inconscientemente. E sempre que enganei alguém, logo em seguida empreendi um esforço imensurável para transformar em verdade absoluta.
Enfim, tenho sido um ser desprezível. Não me liguem mais.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Sobre todas as coisas

Sobre a noite de um negro profundo,
Ainda mais negra em meu peito,
Lançarei meu pensamento
Pelas ruas vazias de tua presença,
Bem como agora me encontro.

Amei o teu silêncio,
Porém as palavras que decolavam
De teus lábios bem-amados
E pousavam em meu coração
Eram, para mim, o despontar
De uma primavera
Após a intempérie.

E o teu riso, fio cristalino
Em tua fronte adorada,
Era um novo mundo a ser desbravado,
Como os teus seios que me remetem
Aos pampas de minha América.

Talvez cem astros se cruzem
Neste céu, nesta noite,
E sob eles levantarei,
Vitorioso, o teu estandarte.