sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Poema escrito na virilha da mulher da noite passada

A rosa de minha concupiscência
Precipitou-se sobre o teu corpo
Despido, bem como os teus olhos
Desnudos, impávidos,
Flor do mundo.

Minhas mãos, em formato de seios,
Abrigam, enrijecem os dons palpáveis
De tua soberania e, fortalecido,
Levo-os aos lábios, sedento, e redivivo
Labuto neste magno ofício,
Nesta excelsa infinitude de bens.

Por entre as tuas pernas percorre
Um arrepio, um suspiro corta a noite
Já tão distante e alheia, e em meio
A tanto movimento, o derradeiro
Ato: as estrelas se desmancham
Em líquido provindo das entranhas
Compartilhadas do desejo.

domingo, 14 de agosto de 2011

Concessões

Se de júbilo, ao invés de ausência,
O infinito se compusesse,
Ao invés de guerras, acrescida de fome, ou se
              O capital
Cobrisse o desespero, o desemprego,
O tráfico, a solidão, talvez nossas
Crianças não chorassem
                               Sangue.

Se o capitalismo
         Tacanho
Lançasse suas garras, e, logo em seguida,
Fosse lançado
                          Para longe,
Triunfaria, neste dia, a poesia,
Escrita pelas mãos de nossas crianças,
Que, entretanto, não a vislumbram,
Tampouco ao futuro, devido
Aos olhos embaçados pelo ópio
      - ou pela miséria -
Que cotidianamente lhes são impostos,
Olhos injetados
        De lágrimas
                     De sangue.

Impostos
- porque sentir fome não é direito de ninguém,
Portanto, há de se pagar preços exorbitantes
Pela miséria:
Um preço pago amiúde
Pelo sangue
derramado
do nosso
          Amanhã.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Das ininterrupções

Ergo sobre a cabeça dolente
A marca dos teus olhos, como um estandarte,
E avanço, bravio, pelas horas da noite,
E avanço, bravio, a chamar-te.

Fulgem, como duas estrelas errantes,
Teus olhos repletos de meandros
Da beleza cristalina, negros da noite,
Teus olhos, sim, estrelados,
Teus olhos, não, mas tu,
Teus olhos, talvez, tão distantes,
Porém tão próximos, arraigados,
Florescidos nos meus, na busca
Incessante,
Inevitável,
Pois também toda lua
É deflorada por uma
Renovada
Manhã.