sábado, 23 de abril de 2011

O amor desmedido

Pequenina mulher, infinita, porém,
Quando me tocas, quando me percorres
O peito, ensina-me o caminho da primavera
Desses olhos,
Dá-me o teu sangue que me leva ao coração,
Dá-me o orgulho de tua brasa nunca dantes
Vista com contemplação, ó amada,
Pois nada sou sozinho,
Tampouco és na multidão da qual
Estou à parte.

Cresces em meu peito,
Porque ganhas as dimensões de meu amor
Tempestuoso e desmesurado.
És tão pequenina quando te afastas,
Não posso ver-te...
No entanto, te ouço, te toco
E te amo sem piedade do meu corpo,
Por suportar, ainda que combalido, a tua ausência.

Gritas por mim, ou é apenas o vento,
Que vem, de chofre, lembrar-me tua voz
Onipresente?

E voltas junto ao vento.
E o vento retorna solitário.
Estás plena novamente, e para sempre.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Helenira

Helenira,
Não vês que estás sob mira,
Que a morte veloz avança?
Helenira,
Mesmo caída atiras,
Helenira,
Em teu grito há vingança!

Helenira,
Tua ternura e tua ira,
Onde o rio se estira,
São rumores de esperança.
Helenira,
Teu sorriso de bonança,
Teu olhar de confiança,
Helenira...
Eras quase uma criança!

Helenira,
Eu empunho tua bandeira,
Nesta terra brasileira,
Nesse leito onde te estiras.
Helenira,
Minha aguerrida companheira,
Minha terna guerrilheira,
Tu és a flor do Araguaia.

Helenira,
O teu ventre é como praia,
O teu grito é uma fogueira,
Helenira.

domingo, 3 de abril de 2011

O sol

Surgiu revigorado o sol,
Beijando e acariciando a vida,
No espaço em que deflorara a noite,
Possuindo-a, altaneiro, lentamente.

Vê: este sol não é o de ontem,
Há nele uma nova espécie de luz,
Um sêmen que doura, que floresce
E que encanta; tampouco será
O sol do possível amanhã,
Pálido, de outrora; doravante
Será um sol apaixonado,
Derramando,
Gota
A gota,
A sua ternura.

Seguir-se-ão os dias, e o sol se manterá
Primaveril, molhado ainda pelo esperma
Da derradeira noite solitária.