quarta-feira, 30 de março de 2011

A manhã

Amor, famélico vou regendo a aurora,
Tecendo alvoradas com dedos indômitos,
Emancipando dores funestas, as quais
Fenecem em teu sorriso, em cuja força
Amanhece meu desejo.

Amor, sol reinante floresce nos teus beijos,
E no infinito, abruptamente, ressoa meu amor desmedido,
No infinito, miseravelmente, algo cresce e se desfaz,
No infinito, renasce algo ainda mais forte,
E então saio das cinzas como a fênix,
Levando-te nos braços, ou talvez na memória.

Beija-me, antes que o crepúsculo principie
E tu me vejas envolto em pesadelo e trevas.
Beija-me urgentemente, pois o resplendor
Matutino já se desvanece em prantos.

terça-feira, 15 de março de 2011

Desta matéria viva

Não são de lágrimas os teus olhos,
Tampouco de alegria combatida:
São de oceano, cuja ambição única
É estender-se sob o sol,
Estabelecendo, assim, sua passagem
Perene, macrocosmicamente,
E efêmera, microcosmicamente,
Pelos tantos caminhos abortados,
Íngremes em sua vastidão.

Não é palpável a analogia desses olhos,
Em cuja reverberação se reflete a natureza:
Fixos, são duas luas triunfantes no colossal
Aspecto da fronte; móveis, esses olhos são
Duas aves famintas e irascíveis que percorrem
Territórios inexplorados, e deflagram
Zonas pacíficas, e produzem as intempéries.
E assim se formam, amor, teus olhos de oceano.

terça-feira, 1 de março de 2011

Este planeta

Não apenas identificando estrelas,
Não somente imitando o aspecto
Grave da lua, mas também recriando o universo
À tua semelhança, iracundo como o vento,
Empreendi jornadas incríveis que resultaram
Em intermitentes labores:

As constelações eram teus olhos,
Era o teu ventre a imensidão do céu,
Os teus seios rijos eram dois pássaros
Que sobrevoam por este azul interminável;
A tua genitália era a lua, em cujos mistérios
Penetro para louvar nesta poesia;
Os raios solares eram teus cabelos,
Auríferas substâncias que douram
Os seres e que se renovam a cada olhar.

Sou devoto do mundo e, portanto, amo-te
Sem início nem fim nem paradeiro,
Indiferente às distâncias e ao tempo,
Pois, sendo universo para mim,
És plena como o ar, invadindo-me o pulmão
E o coração e adjacências com teu amor ubíquo.