quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Exuberância

Se me negas a flor do meu desejo,
Desenhada no teu ventre com destreza
E esmero, orvalhada pela avidez
Das minhas mãos a te despir da pudicícia,
Então me desorbito, e rigorosamente
Repilo a intensidade de abraçar a vida,
Pois todas as coisas abrangíveis estão
Em uníssono nos teus olhos e na extensão
Poética da tua semente que germina júbilo.

Se me impedes que percorra o infinito íntimo
Da tua fortaleza em chamas, território inerme
De concupiscência imensurável, alvo de minhas
Cobiças febris, então vagueio pelo universo
A buscar a estrela progenitora do teu ser,
A cauda do teu cometa errante,
Até que descubro que não há criação,
Não há força sobre-humana capaz de executar
Com perfeição o que fazes diariamente,
Senão o nascer do sol e o despontar da lua,
A germinação de uma flor no peito e a marcha
Primaveril da vida em plena calamidade.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Origem

Antes de nós, era eu um rei
De territórios ermos, e tão
Só como teu sempre fui,
Sem que pudesses conceber
Que a ausência tua
É o cataclismo do universo.

Eis todas as metafísicas
No cume dos teus olhos:
O passado de quando não éramos,
O presente que clama por ser eterno
E o futuro inaudito, porque para dois amantes
A vida consiste em supor o Desconhecido,
Pois tudo já se conhece quando se ama,
E tudo se ama quando se busca
Tudo quanto é intocado.
Teus olhos elucidam a mente dum sábio!

Antes de nós, tudo silente,
E o mundo vago como meu coração
Destituído de cores;
Antes de nós, tudo que existe então
Reduzia-se a nada, exatamente
Como em cada partida atroz
Que dói como a morte no coração.

Donde vieram os mares, senão
Das lágrimas que chorei antes de sermos?
Donde vindes, ventos, senão da busca
Incessante a qual empreendi
Por anos a fio, séculos e milênios?
Concluí, então, que o teu olhar
É o pórtico para a eternidade,
E que os teus olhos mantêm vivo o Sol.