sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ditoso Amante

Às horas vespertinas,
Quando o sol começa a se desmaiar,
Tu te fazes divina,
Beleza que faz sonhar!
Amar-te é uma sina
Quem em meu peito faz-se brotar
Um jardim composto por flores
Belas e primaveris, que se abrem em amores.

Glorioso viver em meu peito inflama
Qual brasa de um encanto celestial;
Nestes campos o amor em chamas
Nas mãos de cetim; na boca jovial!
Eis que meu coração proclama
A lei do amor universal:
Amai, e sereis recompensados
Vós que, amando, não conhecestes o pecado!

Ouço o epitalâmio das aves do prazer
Reverberar em meu coração;
Meu peito, intumescido, não pode conter
Este ímpeto que pulsa de emoção...
Quantos ais proferi sem que pudesses ver
Nos meus olhos a dor da solidão!
Oh! Que deleite causa-me na essência
A luz dos teus olhos – doce e vaga reminiscência.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Afrodite

Os lábios, convulsos,
Querem beber a vida em beijos
Nos lábios teus.
Movidos por impulso,
Lançar-te ao adejo,
Entregue aos desejos
De um venturoso himeneu!

Os eflúvios do lírio
Ao orvalhar da madrugada
São gotas de delírio
Que borrifo em minha amada.
Oh! Desvario:
Dormir na alvorada
Com os olhos ainda derramando
Lascívia da noite acabada!

Tu me viste ao relento,
Roto e macilento,
Caminhando sem porvir.
Entregaste-me o coração,
Ainda frio e sonolento,
Contudo com ânsia de sorrir.

Alma pura,
Que nunca sentira o ressaibo da saudade;
Que nunca secara as lágrimas
Por causa de um forasteiro...
Embala-te aos braços da saciedade,
Aos alentos da mocidade
Deste amor verdadeiro!

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Desabafo

É muito querer e pouco ter. Mas não é apenas querer ter; é querer ser e não conseguir ser. Isso é ainda mais doloroso. Pois quando se deseja ter algo, pode ser alguma coisa absurda. Desde um livro até uma ilha; de uma puta até um amor. Mas quando se quer ser algo, geralmente, este algo é simples. Básico, talvez. E não conseguir ser, descubro agora, é uma frustração.
A arma mais devastadora de corações é a indiferença. Mesmo cercado de pessoas, de todos os tipos, sinto-me só. Percebo que muitas destas que me rodeiam não me acrescentam nada; nem me tiram coisa alguma.
O fato é: Não sei a razão pela qual minha vida se cruza com outras; não sei o motivo pelo qual se abrigam em mim, nos meus beijos. Afundo-me na própria solidão. Sou apenas mais um na multidão atordoada. E o pior: Eu sou o mais atordoado. Pior: Estou no caminho contrário. Este estar-no-mundo me faz mal.
Como alguém pode ser frio com outrem? Como pode falar sem olhar nos olhos? Vaidade! Hipocrisia! Vejo almas vazias.
Viver não é estar vivo. Viver é enxergar: enxergar o que se sente, o que se ouve; é enxergar-se. É sentir o que se enxerga. E as pessoas cegas? Não digo cegas dos olhos, mas cegas da alma.
Relacionamentos feitos em cima de promessas jamais darão certo! Cumplicidade de menos e demasiadas cobranças. Estou extenuado. Mas ainda sinto dor.
Os momentos agradáveis foram todos dispensáveis. Se eu não tivesse amado, meu coração não se sentiria falto, posto que fosse frio. E a única coisa irreversível é a frialdade. E, talvez, a morte. Justamente, um cadáver é gelado.
É a folha seca que cai da árvore, sempre no mesmo lugar. Serve de quê?!
Preciso de segunda chance, mas sei que a terceira será necessária em pouco tempo. E perdoar engendra uma sensação de superioridade; esquecer é servidão. Assim, um simples aprendizado transforma-se em competição. Não se pode partilhar. Isto me dói.
Caralho! É tão difícil ser companheiro?
Não sei que esperança pulsa neste peito. Mas ainda há pessoas boas.
Também sou culpado, mas alego impotência. Sou fraco. Ouço vozes que destilam venenos, e por isso me calo. Eu minto para mim, mas quero ser a fênix. O sol brilha acima de minha cabeça, porém ao lado dele há os arrogantes.
A eternidade não me agrada, pois ela é indiferente ao tempo. E tempo é permissão. E o infinito não me agrada, pois ele é indiferente ao espaço. E espaço é possibilidade.
Hoje sei que há gritos calados. Sei, também, que há prantos extremamente secos. E que estes não possuem valia. O silêncio é uma forma de conversar...
Cresci. Atualmente, sou capaz de perdoar uma traição. Percebi que algumas são sinceras, principalmente para seus autores. Quando muito, para todos.
Há confusão entre sinceridade e oportunidade, entre verdade e oportunidade. Sou acometido por novas dores velhas. Sinto-me ruído; arruinado.
Sou vulnerável. Possuo um coração passional e não consigo caminhar sobre abismos. Não fui capaz de manter-me de pé, quando o caminho se estreitava. Tentei apoiar-me em algo, mas no escuro não distingui a mão que me segurava. Nem a que me estrangulava.