sábado, 30 de janeiro de 2010

Quando

Quando pousas tuas mãos
Neste peito que pulsa de amor,
Sentes nelas o tremor
Que reforça a pulsação?

Quando recolho tua face fria
Junto ao meu peito arfante
E sinto em teus olhos cintilantes
A lágrima do amor que se anuncia...
Não sentes meu afã
Rogando-te um amanhã?

Quando repouso meu olhar
No teu coração...
Quantas sombras se vão!
Como é doce ver-te caminhar!

És capaz de matar um mancebo
Que te fita os olhos pela primeira vez.
E, vidrado em tua tez,
Desvaira, sonha, morre de languidez!

Embalde reprimo os sonhos
Que me trazem uma visão:
Estás à beira da morte, acima da perfeição
E me acenas com um sorriso triste e medonho!

Oh, amada! Oh, moribunda!
Descansas agora a vida
Sob minhas palavras sofridas
Em solidão profunda!

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Noite insana

Por quem suspiras,
Virgem dos lábios de mel?
Tão forte respiras,
Mais alto que a lua no céu!

Se, febril, o teu peito arqueja,
Por amor o meu se desvanece...
Se os meus lábios tua boca beija
Meu olhar de moribundo se aquece.

Oh! Ainda há uma esperança
Nos sonhos deste amor:
Fazer valer uma lembrança
Da mocidade, ainda pura, do pecador!

Que na fronte de minha amada
Eu possa sorver-lhe a última gota de lágrima!
E suspirar, gemendo e chorando,
Na ventura das lágrimas trocadas!

Como o céu é lindo!
E a lua parece nos guiar
- sorrindo!
Com seu pálido brilho a nos acalentar.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Intrínsecos

Quando aos olhos de uma vida sofrida
Um momento é necessário,
Evoca-se a Morte, para que um infortúnio
Não o apague do imaginário...

Vinha com o corpo macilento,
Jorrava seus desalentos
E apoderava-se do meu leito ermo
Sem ouvir o meu grito calado!
Cabelos ao vento,
Sentimentos alados,
Meu peito sedento
Por teu seio suado!

Ó, estrela da juventude!
Colecionas virtudes,
Que tua mente ubíqua
Com a lua oblíqua
Desvendam em meu âmago
Todos os segredos!...

Não tenhas medo,
Não te esqueças de mim!
Eu sei que é cedo,
Mas é nosso fim.
Vá! Casa-te com minha alma!
Agora que a eternidade
Apresenta-se diante de nós...
Fiquemos a sós!

Que o derradeiro suspiro de um homem honrado
Seja causado por amor!
E que a esperança possa sorrir
Ao contemplar teu alvor!
Que esta alma possa usufruir
Os benefícios que a tua, ó bela,
Há de me conceder,
Quando nossa morte, enfim, alvorecer.